Recebida em clima de grande euforia, Maria Pia foi,
48 anos depois, expulsa de um país a quem dedicou toda a sua vida.
Morria pouco tempo depois, demente, longe dos seus tempos de fausto e
opulência, mas com a secreta esperança de que a morte lhe trouxesse a
tranquilidade há tanto desejada. Diana de Cadaval traz-nos um retrato
impressionante de D. Maria Pia, rainha de Portugal. Num romance escrito
na primeira pessoa, ficamos a conhecer a trágica vida de uma princesa
italiana feita rainha com apenas catorze anos.
Excerto«Chegou a minha vez de
morrer. Como último desejo peço que me virem na direcção de Portugal, o
país que me encheu de alegria o coração de menina e me tirou tudo o que
de mais sagrado tinha quando mulher. Olhando para trás, reconheço que a
minha vida foi marcada pela tragédia. Vi partir uma mãe cedo de mais,
morria de doença e de desgosto por um marido que a traía publicamente.
Não me consegui despedir do meu pai, enterrei um marido que, com
palavras doces e promessas vãs conquistou o meu ingénuo coração e no
final me humilhou com as suas traições, um filho em quem depositava
todas as esperanças, um neto adorado, e, por fim, a minha querida
Clotilde, irmã de sangue e confidente. Claro que também tive momentos de
felicidade. Quando sonhava acordada com Clotilde, deitadas nos jardins
do Palácio de Stupigini, com príncipes e casamentos perfeitos, quando
cheguei a Lisboa e o povo gritava o meu nome, quando viajava por essa
Europa fora de braço dado com Luís, quando brincava no paço com os meus
filhos ou quando estendia as mãos para ajudar os mais necessitados,
abrindo creches e asilos. Mas mesmo nestas alturas havia quem me
apontasse o dedo. Maria Pia a gastadora, a esbanjadora do erário
público. A que dava festas majestáticas no paço, a que ia a Paris
comprar os tecidos mais caros e as jóias mais exuberantes. Não percebiam
eles que assim preenchia o vazio que, aos poucos, se ia instalando no
meu coração.»
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